Crónica de uma morte anunciada chamada CASA-CE


Lembro-me de durante um debate na TPA/Falar Claro em 2016/2017 ter defendido, uma vez mais, a pertinência do projecto apesar de ser uma aposta política arriscada que sempre foi desde a sua criação.

Desde que Abel Chivukuvuku e André Mendes de Carvalho (Miau) conseguiram convencer os líderes dos 4 partidos a juntarem-se a eles para formarem rapidamente uma coligação eleitoral que viabilizasse a  sua participação  nas eleições gerais de 2012.

Nesse debate, dois dos colegas de painel fizeram uma avaliação substancialmente diferente da minha, tendo apontado na direcção do fracasso do projecto CASA, por falta de consistência interna.

Nas eleições gerais de 2017, a CASA não só não desapareceu como até cresceu do ponto de vista eleitoral e consequentemente da sua representação parlamentar.



Lembro-me também do fortíssimo ataque de bastidores que a CASA foi alvo na altura e que por pouco não inviabilizava a sua participação no referido pleito, no âmbito de uma campanha de cerco e aniquilamento dirigida especialmente contra a liderança de Chivukuvuku e da preponderância dos sem partido no seio da coligação.

Depois das eleições de 2017 o ataque visando a implosão da CASA na sua versão original, prosseguiu e intensificou-se ainda mais, sendo a ruptura da sua bancada parlamentar em dois grupos distintos e mesmo antagónicos, um dos factos mais conhecidos/marcantes dessa etapa.

Seguiu-se o afastamento de Chivukuvuku da sua liderança na sequência de mais um polêmico acórdão do Tribunal Constitucional, cujas deliberações nesta e noutras matérias conexas (partidos/eleições) dificilmente têm conseguido esconder outras motivações políticas mais estratégicas no contexto angolano.

Resumindo esta crónica que tem matéria mais do que suficiente para um suculento ensaio político com dezenas de páginas, díriamos que um "génio do mal" pode ter convencido definitivamente Mendes de Carvalho, Manuel Fernandes e Alexandre Sebastião que já tinham pernas mais do que  suficientes para enfrentarem com sucesso o eleitorado em 2022 sem mais o peso e a influência de Abel Chivukuku. 

Tudo o resto foi por aí abaixo até ao desastre final que se traduziu no seu resultado eleitoral que já faz parte da história deste país, como sendo um marco de viragem.

O fim desta crónica já era de facto conhecido antes dela terminar.

Ainda não sei bem como é que esta coligação eleitoral se vai aguentar sem o financiamento público.

Também ainda não sei como é que em termos mais políticos a mesma vai enfrentar o futuro se é que ainda tem algum.

Sei apenas que foi desperdiçada por miopia e ambição desmedida de uns poucos, a grande oportunidade que o processo democrático angolano teve de edificar uma terceira via alternativa aos dois grandes da política nacional, numa altura em que a bipolarização se reforçou ainda mais com a existência apenas de dois grupos parlamentares na Assembleia Nacional.


 Reginaldo Silva